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Após grande reflexão, decidi não me dar como morta.
Nem sequer tenho tempo para tal... entre ir à Segurança Social e às Finanças declarar a minha morte, mesmo que fosse à bela da Loja do Cidadão, demoraria tanto tempo que os meus herdeiros certamente desejariam a minha ressureição.
Parece que me estou a imaginar a chegar à repartição para me dar como morta e ter 666 pessoas à minha frente. Só o desespero da espera, me fez mudar de ideias. Talvez se pedisse o especial favor de me deixarem passar à frente, já que estava falecida. Ora os mortos deviam ter prioridade nesta vida, não acham? E depois pensar, será que asseguir vou para o Inferno...hmmm nada disso daqui tenho de ir à Segurança Social.
Assim resolvi aceitar que tenho que pagar o IVA, o IRS o IA, a taxa da TV, a coleira das pulgas para o cão, um serviço de pratos novo e cola para madeira.
Entre ficar empanada à beira da estrada vezes sem conta e ouvir constantemente as mesmas reclamações à minha pessoa todos os dias, resolvi que aguentava o barco com o motor a bombar. Não me dou como morta, nem que me paguem!Vão ter de me aturar, a mim e aos meus bichos.
Mudei de vida, comecei então a levantar-me cedinho e a deitar-me tarde dia sim, dia não. Voltei a desejar os fim de semanas e a projectar o Verão como nunca. Ah pois é! Estou feliz!
Não quero saber, não tenho tempo para morrer!